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Entrevista a Rui Gomes da Silva @ Lobbying Africa

17/09/2019

1- Dr. Rui Gomes da Silva, podemos começar por um pequeno resumo sobre si? É um homem estabelecido no mundo dos negócios?

R: Sou advogado! Por vocação, por opção, mas também por nunca ter deixado de o ser, mesmo quando a vida exigia muito de mim noutras realidades. Foi assim quando desempenhei cargos políticos de eleição, entre 1987 e 2009. Deputado em todas as Legislaturas – V (1987/1991), VI (1991/1995), VII (1998), VIII (1999/2002), IX (2002/2004) e X (2005/2009) – entre essas datas: Membro da Assembleia Parlamentar da NATO (1991/1995, 1999/2002, 2002/2004 e 2005/2009) e Presidente (2002/2004) e Vice-Presidente (2005/2009) da respetiva Delegação Portuguesa, eleito pela Assembleia da República e Membro do Conselho Superior do Ministério Público (1994/1999), também eleito pela Assembleia da República. Ou mesmo quando exerci as funções de Vice-Presidente do PPD/PSD – Partido Social Democrata (2007-2008). Exceção a essa regra, apenas e só por incompatibilidade legal, quando desempenhei as funções de Ministro dos Assuntos Parlamentares (XVI Governo Constitucional – 2004) e as de Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro (XVI Governo Constitucional – 2004/2005).

Sem que tivesse um único problema – até porque levo as regras deontológicas e as incompatibilidades muito a sério.

E o mesmo se diga dos anos – e foram muitos, também – em que fui Vice-Presidente do Benfica. Nunca ache graça a quem era famoso no futebol por vir da política nem fez carreira na política por vir do futebol.

Por isso, advogado, com exercício de cargos políticos e desportivos, a seu tempo, isso sim. Homem de negócios, só se levarmos a sério a ideia (etimologicamente correta) de que o negócio é o oposto do ócio.

Se for essa a asserção do termo, condescendo.

Recentemente e porque tem a ver com Africa, fui nomeado como Conselheiro Especial de Sua Excelência o Primeiro-Ministro e Chefe do Governo de São Tomé e Príncipe. Ao convite e à honra que me concedeu o Dr. Jorge Bom Jesus espero poder corresponder com toda a minha disponibilidade para ajudar no que me for solicitado.

 

2- Quais são os principais desafios e vantagens que Portugal, enquanto país e economia, comparativamente aos países Europeus?

R: Quase me atreveria a invocar uma caraterística muito portuguesa e muito esquecida nestes últimos tempos de vertigem e direcionamento quase que exclusivamente europeu. Eu já não falo nas razões que muitos autores dão para a nossa existência como País nem para as razões da manutenção da nossa independência. A opção atlântica fez de Portugal um Nação com quase 9 séculos de História.

Renegar e omitir essa vocação, essa opção, essa visão atlântica é redutora em relação ao que queremos como Portugal.

Citando outra realidade, fazemos parte, é certo, mas não podemos esgotar as nossas visões, os nossos caminhos, os nossos vetores de desenvolvimento única e exclusivamente na Europa. Temos uma História que podemos esquecer.

E com as potencialidades que esses caminhos encerram, seria redutor para Portugal não encontrar forma de os conciliar com este europeísmo extremo. Somos – para o bem o para o mal – um País virado a oeste. Pois façamos dessa situação periférica uma potencialidade do nosso desenvolvimento.

E assumamos o destino África – sem quaisquer laivos nem tiques de neocolonialismo – o outro segmento do nosso desenvolvimento. Sempre fomos potência marítima ou aliado da potência marítima dominante.

E os livros de geopolítica ensinam-nos alguma coisa, uma delas é a “imperatividade da geopolítica” a médio ou longo prazo … E não podemos combater esse destino que a geografia nos determinou, sejamos capazes de o aproveitar!

Ora, se a isso juntarmos a nossa importância como pais Europeu de pleno direito …

 

3- A internacionalização foi um dos fatores que mais empresas salvou na última crise de 2008. Considera que mesmo fora da crise as empresas deviam considerar a internacionalização como um passo prioritário, e para que mercados principalmente?

R: Claro que sim. Internacionalizar é o primeiro passo para uma economia estruturada e menos dependente de economias mais fortes. A outra linha de força será a de diversificar. Diversificar exportações, diversificar destinos, diversificar setores.

Se, com isso, conseguirmos uma economia mais aberta ao mundo, teremos, porventura, maior sensibilidade para ler os indicadores que nos poderão chegar, mas, também, meios alternativos de reagir a possíveis cenários de crise.

Sempre fomos uma economia aberta, mas – por ciclos – quase sempre dependentes de alguns destinos ou produtos. Estamos – é bom de ver, a corrigir esses fatores.

E, com isso, a deixarmos de ser tão permeáveis a crises de determinados Países, determinados produtos, ou determinados setores. Ainda bem!

 

4- Considera África e os países Africanos mercados particularmente importantes para quem quer ‘dar o salto’ a partir de Portugal para ‘outros’ mundos?

R: Ninguém foge ao seu destino (os chineses dizem á sua sombra, não é???). E, por isso, não seria possível a Portugal fugir de um dos seus destinos históricos. 45 anos depois do 25 de Abril, quase tantos anos depois do fim das guerras de libertação, ultrapassados que estão os traumas das gerações que combateram, está na altura de sermos mais valias uns dos outros.

Portugal dos países africanos de expressão portuguesa, estes de Portugal. Sem paternalismos nem “revoltas de juventude”. Com o respeito que merecem os órgãos próprios de poder de cada um desses Países e com a certeza de que sabem melhor o que querem, o que precisam e o que podem dar.

Sem lhe tentarmos fazer ver as vantagens dos caminhos A ou B porque sabem – tão bem como nós – enquanto Povos o que querem. E se coincidirmos nos objetivos tanto melhor.

Se não o conseguirmos, só teremos de respeitar quem, em democracia, expressa a vontade dos eleitores que representam. Respeito total! Só assim conseguiremos ajudar os portugueses e os estrangeiros que nos procuram, enquanto empresários, a dar o salto como refere na pergunta, a partir de Portugal.

E se nessa nossa missão, conseguirmos envolver as organizações intergovernamentais ou da sociedade civil que buscam essas mesmas metas tanto melhor. Com base num empreendedorismo sério e aproveitando a juventude que está interessada em correr mundo porque Portugal não chega!

5- Que conselhos daria a alguém que quer entrar no mercado Africano através de uma ‘ponte’ Portuguesa? Mais especificamente, qual a sua opinião no que concerne ao lobbying? Em Portugal já sabemos o estado da arte, com o recente veto de uma proposta em AR, mas em África, considera-o importante?

R: Não me penaliza o uso da expressão. Há, como em tudo, um lado bom e um mau da expressão, da designação, ou melhor, da atividade em si. Mas – respondendo como lhe respondi quando me perguntou sobre a minha vida – desde que saibamos respeitar os códigos de conduta e as regras éticas e deontológicas do lobbying nada ficará fora da normalidade.

Ora vejamos, Portugal e as empresas portuguesas (mais Portugal) recorrem ao lobbying junto dos centros de poder norte americanos em Washington, para defender os interesse do País. Portugal e as empresas portuguesas (ou as suas associações representativas) recorrem ao lobbying junto dos centros de poder de Bruxelas para defender os interesses do País. O que tantas vezes me irrita é o facto de quem diaboliza essa atividade serem os primeiros a recorrer a ela quando tal lhes interessa.

Sejamos intransigentes na sua regulamentação, mas não queiramos mudar o mundo.

Aceitando, porventura, uma má conotação da designação (e, possivelmente, muito mais ainda da atividade em Portugal). Mas que a não podemos ignorar, claro que não podemos!

 

6- Na sua opinião o futuro passa pelos países Africanos? E que papel terá na sua opinião o continente Africano e os africanos no mundo?

R: Sempre ouvimos dizer que África era o continente do futuro. Um futuro adiado, muito adiado, mas ainda com muito futuro.

O que não podemos ter, enquanto portugueses, é uma visão de “secos e molhados”, de mero “trading”, de mera intromissão num circuito comercial, com a expectativa de comissões chorudas. Não temos nada contra quem ganhou (ou ganha) a vida assim!

Mas será pela criação de laços de verdadeiro investimento produtivo, aproveitando obviamente as potencialidades desses países, que criaremos os laços do futuro.

Um dia voltaremos a descobrir que o comércio, feito nos termos de antigamente, sendo legitimo, enriquece muito apenas alguns. Mas para que haja empresários é preciso outro tipo de investimentos, que coexista com o comércio.

E se assim for, o papel do desenvolvimento, em termos de relação empresarial, será frutuoso para ambos os lados. Africa não precisa de quem lhe tire riqueza. Precisa de quem a ajude – na estrita medida do que ela pedir – a potenciar a desenvolver toda a riqueza que lá existe!

 

7- Para concluir: Que papel político deverá ter a Europa no desenvolvimento de África? Um papel renovado? Ou o caminho seguido até agora é o correto?

R: O de parceiro. No trabalho, no investimento, no crescimento, no desenvolvimento.

Envolvendo e fazendo vingar – como deixei acima referido – verdadeiras parcerias! E por parcerias temos todos de entender parcerias (e não sobreposição de uma das partes à outra).

Se o conseguirmos (e nós temos obrigação de o conseguir porque conhecemos bem África) seremos merecedores dos elogios e dos agradecimentos das gerações futuras.

Até porque, se não formos capazes – nós – de o fazer, uma dessas gerações vai consegui-lo. Só que não só não nos agradecerá, porque não o fizemos, como não nos olhará de forma muito simpática, porque não fomos capazes de o fazer.

Como se costuma dizer na Africa que nos interessa, “estamos juntos”. Temos mesmo que estar!

 

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